Silêncio em mim
Em uma noite, uma jovem moça saiu a andar por uma rua deserta, andou, andou e nada encontrou. Foi em busca de uma parte que lhe faltava, a sua paz, a sua alegria, o seu amor. Sabe o que ela encontrou? Nada, o simples nada, e, ao nada, perguntou.
- Por que me enganaste? Me fez sair de casa a tua procura, estou descalça, saí à noite, a procura do que me foi dito, a procura da minha parte que faltava, não tem vergonha de me enganar? - Questionou ao nada, com muito pesar em seu peito, a raiva de ser enganada estava começando a lhe consumir.
E o nada confuso lhe responde.
- Tens a certeza de que fui eu a lhe enganar? Nunca te prometi nada, apenas falei que não encontrara a parte que lhe falta se escondendo, a parte que você tanto deseja.
A jovem respondeu ao nada.
- Sim, claro que me enganou! Você falou que, se eu não me escondesse mais em casa, eu a encontraria e eu saí de casa, procurei e não encontrei, você mentiu!
O nada, com sua voz vazia e ecoante, respondeu com uma calma que a irritou ainda mais:
— Não te prometi destino, apenas movimento. Você quis respostas, mas eu sou pergunta. Sou o espaço entre o que você sente e o que ainda não compreende.
A jovem cerrou os punhos. O frio da madrugada começava a tocar seus ossos.
— Então, por que me fez sair? Por que me fez acreditar que encontraria algo além da dor?
O nada se aproximou, envolvente, como névoa:
— Porque é na ausência que se revela o essencial. Você caminhou, chorou, se irritou. Sentiu. E sentir, minha cara, é o início de qualquer reencontro.
Ela se calou. Olhou ao redor, esperando por algo, qualquer coisa que justificasse aquela busca inútil. Mas havia apenas a rua, o escuro e... ela.
Então, pela primeira vez, percebeu que estava viva. Que estava ali. Que havia saído do lugar onde sempre se escondia, mesmo sem respostas, mesmo sem garantias. E essa coragem — essa pequena chama — aqueceu o vazio por dentro.
— Talvez... eu tenha vindo em busca de mim. — sussurrou.
O nada não respondeu. Não precisava. Desapareceu na brisa leve que atravessou a rua, como se nunca tivesse estado lá.
A jovem sorriu. Não porque tinha encontrado tudo o que procurava, mas porque, finalmente, sabia por onde começar.
E naquele silêncio profundo, ela ouviu o próprio nome ecoar — não do mundo, mas do coração.
..."At last
My love has come along
My lonely days are over
And life is like a song"...
Perséfone.
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